Se foram emprestados, NÃO DEVOLVO!!!!!!
Se Saramago diz que os filhos nos foram emprestados eu acredito.Quem sou eu para contrariar algo dito por Saramago. Mas ele nada diz sobre devolução! E eu não devolvo os meus! De jeito nenhum! Por quê?
Porque eu não conseguiria, nunca, abrir mão da nossa convivência, daquelas manhãs passadas em casa, antes da escola, a hora do dever, o estudo da tabuada, a cópia das fichas, a Emília, o Garibaldo, o Chaves, o Xou da Xuxa, aquelas noites de risadas nos quartos antes de dormir, a bagunça no domingo a tarde...
Eles cresceram, a bagunça diminuiu (um pouco) e as nossas conversas ficaram mais longas. Passamos horas e horas no sofá da sala trocando idéias e opiniões, não raramente discutindo algum assunto como se eruditos fôssemos, o que aliás continuamos fazendo sempre que temos oportunidade. Discutimos a vida naquele sofá! A minha e a deles. Ali tudo era dito, conversado e as vezes até brigado entre nós. E como eu aprendi a conhecê-los naquelas conversas. Pena que estas oportunidades estejam se tornando cada vez mais raras, o que é compreensível, uma vez que agora, adultos, a vida deles é que se tornou corrida e cada vez mais cheia de responsabilidades. Apesar disso, nós não perdemos nossa capacidade de rir juntos e de torcer incondicionalmente uns pelos outros
Tivemos nossos baixos também, e não foram poucos. Mas, deles felizmente eu me lembro pouco. E francamente espero que eles também, porque no contexto da nossa convivência, o que é negativo, não pode nem merece ocupar um espaço importante.
Aliás, importante de fato, é que ao findar mais este ano, o nosso e principalmente o meu saldo continua muito positivo. Hoje eu tenho além deles, filhos mais que queridos, meu orgulho, minhas duas noras e meu genro com os quais eu adoro conviver e que até hoje só me deram alegrias e... eu nem cheguei a falar delas, as minhas netas, maior alegria da minha vida, porque sobre elas eu teria um tratado a ser escrito.
E apesar de tudo o que eu disse até agora, a certeza que eu tenho é que, embora eu queira sentir que eles me pertencem, eu sei que não, porque eles de fato já estão entregues ao mundo do qual fazem parte, cada um seguindo seu caminho, de tal maneira, com tanta garra, honestidade e interesse pelo próximo, que certamente já estão deixando atrás de si um rastro, que será seguido sem dúvida nenhuma pelos filhos, até agora filhas, que lhes foram -serão- emprestadas(os), e que eles assim como eu vão hesitar em devolver!