segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Portas Fechadas

       A casa do vovô no Prado está fechada. Depois de assistir impávida, durante quase sessenta anos à vida da família Rocha, será vendida, demolida sem  nenhuma pompa ou circunstância. Jogada ao chão, será recolhida como entulho, com seus ladrilhos, as janelas de madeira e venezianas, a porta de entrada com vidros coloridos e a parede da sala com alto relevo da metade prá baixo,tão linda! 
       Mas me ocorreu que ela possa ser agora uma casa bem assombrada,  que ainda mantenha entre suas paredes, enquanto de pé, os sons e as cores das festas dos casamentos da Tia Lúcia, da Tinês e da Tia Aparecida, os ensaios das quadrilhas feitos na garagem, os encontros dos amigos na varanda prá ouvir a Tinês cantar e tocar violão e o Titonho mostrar o terno novo e falar do alfaiate Avelino. Havia também as risadas e as discussões nas tardes de  "Buraco" porque a Tîtê passava a perna em todo mundo com a maior facilidade e as historias do Tizé  dormindo no hotel que ficava no prédio da Kastrup.
O Fieco o Papai e o Tio Humberto, encostados na grade discutiam quem era o melhor genro do Biezão e às vezes aparecia o "China" com sua "baratinha"conversível prá buscar seu amigo, o Tio Gabriel numa amizade que para nós era considerada a mais improvável do mundo pela diferença de humor entre os dois.
     Havia sempre  uma novidade: -o tio doente veio do interior para se  tratar, ou as primas vieram passar férias, ou ainda o primo veio prá morar e trabalhar, era um entra e sai que não acabava nunca. Delicioso principalmente prá nós, crianças que ficávamos ouvindo todas as conversas, enquanto ninguém se lembrava de nos mandar dormir.
      E os Natais? Todos reunidos para rezar o terço, antes da ceia, ou ir à Missa do Galo, depois sentados à varanda para ver o movimento da rua e cumprimentar  os vizinhos: Sr Tufi e dona Edwirges, dona Rosária e Madalena, Dona Raimunda e "Seu", Dolores,  Dona Dulce e Dona Noêmia,entre outros.
     Uma vez por ano era produzida  "a " Pamonha que envolvia toda a família, inclusive com a participação das crianças, Rogério e eu por exemplo quase morríamos de moer milho, e que também  dava trabalho para todos é verdade mas muita alegria  e quase briga ao final, na disputa de quem leva quantas.
    Acredito que as lágrimas, que foram muitas, muitas mesmo, as velhas e inúteis discussões, as antigas mágoas que certamente não existem mais, passaram e virarão entulho também. Já as grandes, enormes, perdas que sofremos,   estas estarão sempre conosco sem que seja necessário citá-las aqui,ou manter de pé a velha casa nº 272 da Rua Cura D´Ars.
     

2 Comentários:

Às 9 de agosto de 2011 às 10:41 , Anonymous Anônimo disse...

Mãe, é muito bom estar tão perto de vc e poder ouvir as historias que, para as outras pessoas, vc conta por aqui...

É estranho pensar na casa da rua Cura D'Ars com todas essas cores e pessoas...

Amo vc muito!

Sarah

 
Às 17 de setembro de 2011 às 05:44 , Blogger CRIANDO ARTES disse...

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